Tatiana Clébicar – O Globo Online
No início do mês, uma pesquisa realizada pela Universidade de Bonn, na Alemanha, provocou polêmica. O estudo, envolvendo 7,3 mil mulheres, concluía que a mamografia não era capaz de detectar 56% dos cânceres de mama em estágio inicial enquanto a ressonância magnética, um exame de oito a dez vezes mais caro, deixou de indicar os tumores em apenas 8% dos casos (ver 794/ Exame de mamografia é ineficaz em 50% dos casos) .
Na Semana Nacional de Prevenção ao Câncer de Mama, especialistas em mastologia, oncologia e saúde pública explicam por que a mamografia continua sendo o melhor exame para a mulher prevenir a doença — que tem cura, mas por causa do diagnóstico tardio deve matar 12 mil mulheres este ano.
– Os alemães desenvolveram esta tecnologia mais a fundo e, por isso, costumam defender a ressonância magnética. Mas em outros países a mamografia ainda é o padrão-ouro para diagnóstico do câncer de mama – explica o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Diógenes Basegio.
Segundo ele, a ressonância é um exame mais sensível do que a mamografia , porém menos específico. Ele é útil na detecção de tumores em mamas densas – de pacientes jovens ou submetidas a radioterapia – e com prótese de silicone. No entanto, não é capaz de distinguir o potencial de malignidade da lesão.
– Por seu alto custo, o Sistema Único de Saúde não paga a ressonância como screening (rastreamento) do câncer de mama. E nós temos defendido isso porque ela é útil para um grupo da população.
O mastologista Antonio Carlos Jardim acrescenta que a ressonância magnética deve ser usada como exame complementar ou nos grupos em que a mamografia não será tão eficaz.
– As mulheres abaixo de 45 anos ainda têm as mamas densas e em 10% a 15% dos casos a mamografia não será eficaz.
Ela funciona comparando a densidade dos tecidos. E os tumores são mais densos do que os tecidos saudáveis – explica ele, que recomenda a ressonância como um tira-teima.
Quando há dúvidas, a ressonância é espetacular porque possibilita a visualização em cortes seriados em diversos planos. É como se fatiassem a massa estranha. Além disso, numa segunda etapa, é injetado um contraste. A curva de captação da substância indica se o tumor é benigno ou maligno.
Ressonância tem alto índice de falso-positivo
Para o oncologista clínico e sanitarista Ronaldo Corrêa, técnico da Coordenação de Prevenção do Instituto Nacional do Câncer (Inca), ainda é cedo para se atestar as vantagens da ressonância magnética. Segundo ele, a taxa de resultado falso-positivo na ressonância é alto.
– A ressonância tem mais chance de identificar algum problema, mas esse problema pode não ser câncer.
Não há estudos que avaliem o exame e a redução da mortalidade – explica acrescentando que o estudo alemão se referia ao câncer ductal in situ, um tipo de lesão pouco agressiva.
– Isso pode levar a um tratamento exagerado. Por exemplo, uma mulher em torno dos 42 anos recebe um resultado de uma ressonância indicando uma lesão deste tipo.
Ela poderia acompanhar a evolução do tumor e ser tratada de uma forma conservadora ou optar pela retirada da mama.
Como a maior parte das mulheres ainda associa o câncer de mama à morte, provavelmente a maioria optaria por retirar a mama, também correndo os riscos da cirurgia. A chance de a ressonância provocar alarmismo e pânico é maior.
Ele pondera que há duas maneiras de ver a questão: no âmbito da saúde pública e no da individual.
Em sua opinião, do ponto de vista da saúde coletiva, não faria o menor sentido oferecer um exame muito mais caro, mais lento e que necessita de um espaço físico maior sem ter a certeza de que isso trará impacto para a redução da mortalidade.
Já no plano individual, médico e paciente devem discutir as vantagens e as desvantagens da realização do exame.
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