1035/ Candidatura à Presidência foi invenção da mídia, diz Bloomberg

 

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Michael Bloomberg

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, disse no domingo que nunca considerou concorrer à Presidência dos Estados Unidos e afirmou que qualquer sugestão sobre isso foi feita pela imprensa.

No início do ano, quando Bloomberg deixou o Partido Republicano, houve grande especulação de que ele planejava uma candidatura independente à Presidência em 2008, embora o prefeito negue.

Questionado se havia analisado a possibilidade, Bloomberg disse à repórteres em Blackpool: "Eu não… Os jornais brincaram com isso.. Eu sempre afirmei que não era candidato a nenhum cargo mais elevado."

Bloomberg, que está em seu segundo mandato como prefeito de Nova York, mantém o controle acionário da Bloomberg L. P., que conta com um serviço de notícias que concorre com a Reuters.

"Eu optei por não vender minha empresa, mas eu não planejo voltar a administrá-la", ele disse, acrescentando que quando deixar o cargo político provavelmente irá se dedicar à filantropia. Suas áreas de interesse são saúde pública, educação, artes e processos governamentais.

Bloomberg discursou mais cedo na conferência anual do Partido Conservador britânico, em Blackpool, e se dirigiu aos políticos conservadores norte-americanos que geraram déficits de orçamento.

"Para mim, aparentemente, o Partido Conservador no Reino Unido é muito mais conservador fiscalmente do que muitos políticos norte-americanos que se apresentam como conservadores", disse.

"Muitos deles querem gerar déficits enormes e esperam que de alguma maneira outras pessoas paguem por isso. Isso não é conservadorismo, é alquimia, ou melhor, loucura."

(Reportagem de Adrian Croft para a Reuters)

1034/ PC popular: ‘compre dois, doe um’

Do G1

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 Ao comprar dois laptops por R$ 750, consumidor doará um a crianças carentes (Foto: Divulgação)

O One Laptop Per Child (Um Laptop por Criança), um projeto ambicioso cujo objetivo é levar a informática para crianças de países em desenvolvimento, ganha um impulso considerável. Anos de trabalho de engenheiros e cientistas valeram a pena, resultando em uma máquina barata e inovadora que é também leve, resistente e surpreendentemente versátil. As primeiras críticas são favoráveis e a produção em massa deve começar no mês que vem.

Os pedidos, porém, são poucos. "Até certo ponto, eu subestimei a diferença entre cumprimentar um chefe de estado e receber um cheque preenchido", disse Nicholas Negroponte, diretor do projeto sem fins lucrativos. "Sem dúvida, foi uma decepção".

Mas Negroponte, diretor fundador do laboratório de mídia do MIT (Massachusetts Institute of Technology), acha que o problema é temporário considerando-se a longa tarefa de usar a tecnologia como um novo canal de aprendizagem e comunicação para as crianças de todo o mundo. Além disso, ele está em contato com o público para tentar dar um empurrão na campanha do laptop. O programa de marketing, a ser anunciado nesta segunda-feira (24), chama-se "Give 1 Get 1" (Doe 1, ganhe 1), em que americanos e canadenses poderão comprar dois laptops por US$ 399 (o equivalente a R$ 750).

Uma das máquinas será entregue a uma criança de algum país em desenvolvimento e a outra será enviada ao comprador até o Natal. O computador doado é uma contribuição de caridade dedutível de impostos. O programa funcionará durante duas semanas e os pedidos serão aceitos de 12 a 26 de novembro.

O que exatamente os americanos farão com os laptops fininhos verdes e brancos é incerto. Algumas pessoas talvez os doem para escolas do bairro ou organizações de jovens, previu Walter Bender, presidente do projeto do laptop, ao passo que outras ficarão com as máquinas para a própria família ou para uso próprio.

Projeto

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Máquina possui tela de alta resolução, câmera e tecnologia peer-to-peer (Foto: Divulgação)

As máquinas possuem telas de alta resolução, câmeras e tecnologia peer-to-peer (ponto a ponto) para que os laptops comuniquem-se entre si sem fio. A máquina funciona com software de código de fonte livre e aberta.

"Tudo que existe na máquina fica aberto ao usuário, assim as pessoas podem fazer modificações no computador, alterá-lo e personalizá-lo", explicou Bender, pesquisador da área. "Parte do que estamos fazendo com esse projeto é ampliar a comunidade de usuários, aumentar a base de idéias e contribuições e isso será extremamente valioso".

O computador, chamado XO Laptop, não foi desenvolvido com o foco em crianças ricas. A intenção era que fosse barato, com os custos chegando a uma média de US$ 100 (R$ 190) por máquina e que fosse resistente o suficiente para suportar condições adversas em vilarejos rurais. Além disso, o equipamento é extremamente econômico em termos de consumo de energia, que é cerca de 10% menor do que o de um laptop convencional.

A equipe do projeto do laptop estava preocupada com a possibilidade de as crianças americanas experimentarem as máquinas mais simples e acharem que elas são deficientes em comparação com os laptops da Apple, Hewlett-Packard ou Dell que possuem. Em seguida, nesta era de comunicações globais imediatas, poderiam publicar suas críticas em sites e blogs que seriam lidos no mundo todo, prejudicando a reputação do XO Laptop, segundo as preocupações dos membros do projeto. Por isso, decidiram patrocinar uma pesquisa de grupo focal com crianças americanas de sete a 11 anos no final de agosto. Os resultados foram positivos, para alívio da equipe. O grupo pesquisado gostou do fato de a máquina ser destinada especificamente a crianças e valorizou recursos como a comunicação sem fio entre as máquinas. "Totalmente bárbaro", foi o veredicto de um dos meninos. Outro jovem, preocupado com o meio-ambiente, observou que o laptop "evita o aquecimento global".

Doação

Contudo, a iniciativa do "Give 1 Get 1" é sobretudo focada na doação. "O propósito real é dar início a esse movimento", disse Negroponte.

Ele contou que se, por exemplo, as doações atingissem US$ 40 milhões (R$ 75 milhões), significaria que 100 mil laptops seriam distribuídos de graça nos países em desenvolvimento. A idéia, segundo ele, seria distribuir talvez 5 mil equipamentos para 20 países para iniciar a experiência e começar a concretizar o projeto. "Isso poderia dar margem a muitas coisas", disse Negroponte.

No final do ano passado, Negroponte disse que esperava 3 milhões de pedidos de laptops, o que ficou abaixo da expectativa. Os pedidos de países populosos como Nigéria e Brasil, que segundo as expectativas seriam de 1 milhão cada, não vingaram. Entretanto, o projeto também teve êxitos. O Peru, por exemplo, comprará e distribuirá 250 mil laptops no ano que vem, muitos dos quais serão alocados nas zonas rurais. O México e o Uruguai, como ressalta Negroponte, comprometeram-se firmemente. Em um programa de patrocínio, o governo da Itália acertou a compra de 50 mil laptops para distribuição na Etiópia.

Cada país terá sua própria idéia de como empregar as máquinas. Alan Kay, pesquisador e consultor de informática para o projeto do laptop, contou que espera que um dos usos mais comuns seja carregar livros escolares a 25 centavos cada nos laptops, que possuem uma tela de alta resolução que facilita a leitura.

"Provavelmente será trivial nos primeiros estágios", disse Kay, que coordena um grupo de treinamento sem fins lucrativos, cujo software de aprendizagem será executado em um XO Laptop. "Sou otimista e acho que o projeto acabará dando certo", revelou Kay.

1033/ As "sobras da História"

Ensaio de Roberto Pompeu de Toledo para a Veja (nº2027)

A trajetória espinhosa de uma família brasileira, da Inconfidência Mineira ao Funrural

ClaudioManueldaCosta

Casa de Claudio Manoel da Costa em Ouro Preto

Num lugar chamado Areião, na vertente sul da Serra do Itacolomi, município de Mariana, outrora terra do garimpo que fez a glória das Minas Gerais, vive a viúva Alberta Maia Gomes, a "Albertina", de 79 anos, nove filhos, 36 netos, nove bisnetos, uma brasileira pobre, de pouca instrução, igual a muitas outras, não fosse por um detalhe: Albertina é uma espécie de sobra da história.

O casebre que as galinhas invadem sem cerimônia, o velho moinho d’água de fazer fubá, o entorno de penúria rural, nada indica uma ascendência ilustre, mas este é, exatamente, o caso: Albertina descende do advogado (formado em Coimbra), secretário do governo da capitania de Minas Gerais, poeta de reconhecidos méritos e infeliz inconfidente Cláudio Manuel da Costa.

A história de Albertina era conhecida desde a infância, por ouvi-la em família, do jornalista mineiro Inácio Muzzi. Na edição de julho da Revista de História da Biblioteca Nacional ele a contou num artigo.

Cláudio Manuel da Costa morreu no dia 4 de julho de 1789, quarenta dias depois de ter sido preso, acusado de integrar a conspirata contra o domínio português. Quem visita a Casa dos Contos, o mais imponente casarão de Ouro Preto, não escapa de ser apresentado ao cubículo em que o poeta foi encontrado morto – suicídio, segundo a versão oficial; assassinato pelos algozes, segundo suspeita que atravessa os séculos.

Cláudio tinha 60 anos e era solteiro. Na poesia, como era moda entre os chamados "árcades", ele cantava as belas pastoras Daliana, Violante, Nise, Eulina – esta última tão branca que "parece escura a neve em paralelo". Na vida real, escassas que eram tais musas, amou a negra Francisca Cardosa, escrava cuja alforria comprou de um vizinho. Teve duas filhas com ela – Francisca e Maria.

O poeta, homem rico, foi reduzido a zero. Teve todos os bens, das fazendas às roupas e aos 406 livros, seqüestrados pela coroa portuguesa. Havia já 25 anos que o marquês de Beccaria publicara Dos Delitos e das Penas, o livro-base do direito penal moderno, que, entre outras coisas, estatuía o princípio da individualização das penas.

Pela lei portuguesa, no entanto, ainda valia castigar os parentes do condenado, e assim seus filhos e netos foram declarados infames. Uma das propriedades de Cláudio era a fazenda da Vargem, lá junto ao Itacolomi, no caminho entre Ouro Preto e Mariana. Ela mudou de mãos várias vezes, desde que foi do poeta. Mas os descendentes continuaram por ali. Por liberalidade dos novos donos, segundo supõe Inácio Muzzi, foi-lhes permitido continuar na franja da fazenda denominada Areião.

Hoje restam no local Albertina, uma filha e o genro, mas já foram bem mais numerosos. Até três ou quatro décadas atrás, distribuídos em nove casas, formavam uma comunidade fechada, que, para não dividir a terra, só casava entre si, primo com prima.

Parentes de Muzzi possuíam uma fazenda vizinha e sabiam, desde que um tio-bisavô do jornalista, o historiador Diogo de Vasconcelos, pesquisara o assunto, que o pessoal do Areião descendia de Cláudio. Aos poucos, a comunidade foi se dispersando, expulsa pela penúria.

Não bastasse a pequena produção de milho, feijão, abóbora e outros itens não encontrar mais mercado, ainda caíram sobre eles, nestas últimas décadas, os rigores da política ambientalista, que proíbe plantações extensivas, corte de madeira, caça e garimpo com máquina na região. Albertina tem na Polícia Florestal uma inimiga. "Eles só vêm aqui para atormentar gente pobre", disse a Inácio Muzzi.

Ela vive dos 700 reais mensais que recebe do Funrural, soma de sua aposentadoria com a pensão do marido. Uma vez, quando o marido ainda vivia, um advogado tentou tomar-lhes as terras. Ao cabo de uma demanda de catorze anos, eles obtiveram o título de propriedade, por usucapião. Albertina tem tanto medo de perder esse papel que, quando viaja, o carrega na bolsa.

Thomas Jefferson, um contemporâneo catorze anos mais novo que Cláudio Manuel da Costa, também teve filho com uma escrava. Entre os descendentes do autor da Declaração de Independência e terceiro presidente dos EUA há hoje uma situação de tensão opondo a ala dos brancos, da linhagem da legítima senhora Jefferson, à originada na senzala.

Os brancos não querem saber dos outros nas anuais festas familiares nem lhes permitem os enterros no cemitério familiar da histórica propriedade de Monticello. No Brasil os descendentes de Cláudio não têm uma ala "legítima" com que concorrer, mas o Monticello que lhes coube é um rude e cada dia mais inútil Areião. Isso diz um pouco das diferentes maneiras de excluir, em um e outro país.

No Brasil pagam-se discutíveis indenizações a vítimas da ditadura e reconhecem-se direitos de quilombolas de duvidosa procedência. Nunca ao estado brasileiro, sucessor da coroa portuguesa nesta banda do Atlântico (quem mandou proclamar a independência?), ocorreu indenizar herdeiros (e herdeiros de alguém hoje tido como herói da pátria) que tiveram seus bens esbulhados e foram tachados de infames.